Minha Vida Pelo Mundo





quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Olhos azuis


Alguma vez na sua vida você já viu pessoas serem discriminadas por terem olhos azuis?
Neste documentário, a professora Jane Elliott usa uma forma inusitada, ousada e inovadora para tratar o tema da discriminação.

domingo, 16 de setembro de 2012

De indianos a indígenas

Olá pessoal. Espero que não esteja muito estranha essa história de ter um blog chamado Minha vida na Índia e postar assuntos do meu dia a dia em São Paulo.
Bem, incoerências à parte, hoje vim falar um pouco da vida em geral e principalmente da visita que fiz ontem com o pessoal da USP a uma aldeia indígena em Parelheiros, chamada Krukutu.
Essa visita estava prevista no programa da disciplina da professora Márcia Gobbi, que é formada em Ciências Sociais e faz pesquisas sobre desenhos infantis, entre outras coisas. Foi graças a ela que eu soube da possibilidade de fazer uma transferência do meu curso de pedagogia na Campos Salles para a USP. Sim, e como eu não sabia disso, imagino que outras pessoas não saibam, então aproveito pra divulgar já que foi algo bastante significativo pra mim.
Caso você esteja fazendo curso superior numa faculdade particular e tenha interesse em estudar em uma pública, há um processo de transferência externa que ocorre todos os anos. No caso da USP, a prova da primeira fase é aplicada pela FUVEST, é só entrar no site deles pra conferir os detalhes. A vantagem é que a prova é mais tranquila do que o vestibular regular e a prova engloba apenas conhecimentos relacionados à area do curso desejado.

Enfim, agora voltando à visita... Apesar de distante (aproximadamente uma hora e meia do campus do Butantã), a aldeia Krukutu  fica ainda dentro dos limites da cidade de São Paulo, e destoa completamente da paisagem urbana típica da grande metrópole. Lá fomos recebidos por uma espécie de líder na comunidade, chamado Olívio Jekupé, o qual já estudou na USP também e tem livros publicados inclusive na Itália.
A aldeia fica numa área de proteção ambiental e, pelo contato com os "brancos", já há uma influência expressiva destes na cultura da comunidade. Existe ali uma unidade básica de saúde, uma escola estadual e o CECI (Centro de Educação e Cultura Indígena). O contato com este grupo suscita questões de grande profundidade, cuja discussão caberia em meios científicos e de políticas públicas, mas aqui podemos deixar o lado humano - o contato e o olhar de respeito para com a diversidade.

Menino brincando na aldeia Krukutu. O que mais me fascinou foi como as crianças usam seus corpos de diversas maneiras, com liberdade e expressão muito menos cerceadas do que conhecemos em nosso formato de sociedade.
Açude na aldeia indígena Krukutu. Dá pra acreditar que isso é na cidade de São Paulo?
Assim como essa visita, outras experiências têm tornado este semestre na faculdade interessante e válido, mas as experiências positivas minimizam apenas um pouquinho a saudade e a dificuldade de estar longe do meu amado. Digo isso porque a situação atual tem feito com que eu reflita bastante sobre relacionamentos, e deixo pra vocês a mensagem que considero mais essencial: Não importam as circunstâncias, haverá obstáculos. E é nas horas de maior desafio que nossa fé é testada. Compreensão, amor e generosidade são a solução para muitos problemas e vale a pena o esforço de exercitar estes valores. Quem descreve com maestria tal relação é Jeffrey R. Holland, apóstolo de A Igreja de Jesus Cristo dos Últimos Dias. Assista aqui à devocional.

Deixo meu agradecimento a todos os que torcem por nós e nos ajudam a sermos melhores de alguma forma.
Beijos com carinho
Mari

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Seguuuura Leandrão!

Fala, peãozada! Essa postagem é especialmente para homenagear o meu tio Leandro que, além de ser gente boa e sempre nos apoiar nas nossas aventuras, é uma figura ímpar. É incrível o número de coisas que ele já se meteu a fazer e levou a sério: skate, bike, hip hop, ioiô... enfim, isso que consigo me lembrar e além de ser uma pessoa super alto astral, trabalhador e pai de família de um grande coração.

Sua mais recente empreitada lhe rendeu um troféu: ganhou o terceiro lugar no concurso de berrante na Festa do Peão de Barretos 2012.

Leandro berranteiro (à esquerda) e amigos no concurso de berrante em Barretos 2012.
Deixo também uma amostrinha do que ele sabe fazer com o ioiô. Este vídeo é apenas uma brincadeirinha no fundo do quintal, mas é o único que tenho agora:


É isso aí. Parabéns, Leandro!

domingo, 2 de setembro de 2012

What's up update

Olá pessoal!

Neste fim de semana pude ter o luxo de desacelerar um pouco o ritmo, graças ao patriotismo da USP, onde não há aulas durante toda a semana que vem - chamada Semana da Pátria. Além disso a faculdade também é muito religiosa, e no primeiro semestre há a Semana Santa já prevista em calendário oficial sem aulas.
Tudo bem que vou ter que aproveitar o tempo pra estudar em casa e fazer trabalhos, mas ao menos não tenho que ir a São Paulo. Aliás, costumo passar um algodão no rosto com produto próprio para limpar a pele à noite quando chego, e a poluição de São Paulo fica mais que visível ali, só pra terem uma ideia.

Bem, pra fazer jus ao nome do blog, que ainda é Minha Vida na Índia, conto uma talvez supérflua novidade de lá: Inauguraram um KFC em Agra. Essa rede de frangos gordurosos frequentada por caminhoneiros nos EUA não me apetece nem um pouco, mas esta mesma opção na Índia é certamente bem-vinda como uma alternativa para o Pizza Hut.

Pra finalizar, o ponto alto das notícias da semana pra mim foi a garotinha escocesa que criou o blog Never Seconds criticando a má qualidade da merenda em sua escola e acabou influenciando várias outras estudantes mirins no mundo, inclusive a catarinense isadora, que criou a página Diário de Classe no Facebook, a lutar por seus direitos de uma forma super legítima e eficiente: divulgando. A Isadora conseguiu que muitas reformas fossem feitas na escola que estuda. Já a escocesa Martha acabou usando sua popularidade pra arrecadar fundos em prol de um projeto na África. Great job, girls!

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Resumo das últimas semanas: Maceió, Rio Grande e USP

Oi folks! Long time no see...

Pois é, pessoal... quando eu disse que não abandonaria meu blog talvez não tivesse a noção de que fazendo 28 créditos na faculdade o tempo pra blogar ficaria escasso.

Bem, mas não esqueci do compromisso e cá estou eu pra fazer um resumo do último mês ou mais desde que saí da Índia.
Novamente fomos bem tratados pela Lufthansa, com comissárias simpáticas, ótimo serviço de bordo e uma santa telinha de entretenimento que me ajudou muito durante o segundo voo. Ali, dentre outras coisas, assisti ao show da Adele - que achei meio revoltada e bocuda por sinal, mas muito talentosa - e ao filme The Best Exotic Marigold Hotel, o qual achamos que retrata bem o jeitinho indiano de ser, exceto pelo casal trocando carícias na rua, isso nunca vimos em Agra. Lá os casais mais ousados andam de mãos dadas em público, o que deve ser bem mais normal nas grandes cidades. Não vimos isso e nem elefantes, que sempre são mostrados nos documentários sobre a Índia.

Foram aproximadamente 8 horas e meia de Delhi a Frankfurt, uma escala de poucas horas admirando os europeus bem vestidos no aeroporto, mais 11 horas e meia até o Rio, depois mais um voo até Aracajú e em seguida um ônibus (Sim, ônibus! Fizemos assim pra economizar) até Maceió, totalizando mais de 50 horas em trânsito!

Maceió é linda! Mas vale lembrar que muitas das belezas e dos passeios que se faz por lá são em outras cidades, na região. Nós ficamos no Hotel Ritz Plazamar, que não fica exatamente em frente ao mar, mas por isso oferece melhores preços. É um hotel relativamente pequeno, aconchegante e com bom atendimento.
Nosso receio de ir em julho eram as chuvas, e realmente chegamos lá num dia de garoa fina e constante, mas nos próximos dias que passamos lá tivemos sol e temperaturas ideais - melhor que o calor do verão que chega a ser desconfortável.
Nosso primeiro passeio foi com o pessoal de uma das empresas de turismo receptivo, dentre as tantas que estão por lá. Fomos às praias do Francês, Barra de São Miguel e Gunga. Naquele dia achamos a Praia do Francês a mais bonita, por conta da cor da água e dos arrecifes, mas chegamos à conclusão de que tudo depende da maré, do horário que se vai e das circunstâncias. Além dos gostos pessoais, por essa razão muitas pessoas têm opiniões bem diferentes sobre um mesmo lugar.
Passamos um dia na praia de Pajuçara, que foi ok, mas tinha muitas sujeiras na água. Nosso próximo passeio foi para Maragogi, também com uma empresa de turismo receptivo. As piscinas naturais de lá realmente são lindas, mas há um monopólio do pessoal que oferece os serviços, tornando o passeio extremamente caro. Depois, visitando as piscinas naturais de Pajuçara, vimos que não são muito diferentes das de Maragogi e o passeio é bem mais acessível. Pra mim o ponto alto da viagem foi a praia de Sonho Verde, pra onde já não se faz turismo. Pegamos instruções com o pessoal do hotel e fomos de ônibus. Lá, com os coqueiros a beira mar e número reduzido de visitantes, passamos uma romântica tarde nas deliciosas águas sob um lindo céu azul. No mesmo dia resolvemos seguir para Ilha de Crôa... sem dúvida um passeio que NÃO recomendo: a ilha está horrível. O que o pessoal vai fazer por lá é usar a estrutura do tal Capitão Nícolas - restaurante, piscina... enfim, coisas que não faço questão. Dali resolvemos partir para a praia semideserta de Carro Quebrado. Muito bonita, com as falésias fica com uma paisagem única - vale a pena conferir.
Para comer: Imperador dos Camarões. Sempre! Mal provamos outras coisas. Se quiser comer um lanche, o "xis" do Paraíso é bem gostoso. Os dois ficam próximos da tradicional feira de artesanato. Não sei bem se em Pajuçara ou Ponta Verde.

Foi bom mas acabou... chegou a hora de ir pra casa. Mas e desde quando nômade tem casa? Seguimos para a casa da sogra (literalmente) em Novo Hamburgo, RS, cidade onde vivi por um ano. A experiência no Rio Grande foi uma que sem dúvida me fez ter vontade de escrever um blog também. De lá eu não trouxe o hábito do chimarrão, mas trouxe o sotaque cantado que já tinha aprendido há muito só no convívio com o maridão. Não sei dizer o porquê, mas desta vez o Rio Grande parecia estar mais belo (algo a ver com o fato de eu estar voltando da Índia?). Bem, só sei que apreciei ainda mais o sol nos montes verdejantes do sul e a companhia da família e dos já grandes amigos que lá deixei.

Aí sim era hora de voltar pra casa. Desta vez a casa da mãe, a que foi minha casa desde o início da adolescência, onde ainda tenho meu quarto e o amor de mãe que só o amor de mãe explica. Cajamar também é muito peculiar. É daquelas cidadezinhas onde a gente cumprimenta todo mundo na rua e tem o direito de falar da vida delas também. E é daqui que eu parto quase todos os dias para a Universidade de São Paulo, mais especificamente para a Faculdade de Educação. Faz três anos que saí de lá mas parece que nunca saí. Pouquíssima coisa mudou. Os mesmos tipos, as mesmas discussões em sala... quem mudou fui eu. Não na essência, mas na maneira de ver o mundo. E, quanto a isso, vocês terão a oportunidade de ver um pouco mais durante o percurso.

Até mais ver, meus caros.
Beijos
Mari

sábado, 14 de julho de 2012

Retrospectiva II

Na Índia tem de tudo...


Tem Mc Donald's com parte da cozinha reservada apenas pra alimentos vegetarianos...

Tem cabeleireiro...

Tem lugar pra passar as roupas...

Tem dromedário decorado dividindo a estrada com os carros na maior pompa...

Tem um grupo de búfalos atravessando a rua e até um vaidoso que posa pra foto :)

Agora pra encerrar segue a foto que na minha opinião é a mais hilária... dispensa comentários. Ou melhor, comentem e digam se esta também foi sua escolhida ou se alguma outra chamou mais atenção:








Hehe... Vou terminando por aqui. Talvez esta seja a última postagem diretamente da Índia em um bom tempo. Obrigada a todos os que me acompanharam nesta viagem. Estão prontos para o próximo destino? Maceió, Brasil! Vamos? 

Retrospectiva I

Oi pessoal. Pra encerrar essa primeira fase na Índia , aqui vai uma seleção no estilo fotolog de coisas que vi e vivi durante esses quase seis meses que morei aqui.

Minha primeira surpresa ao chegar na Índia ficou por conta do aeroporto de Nova Delhi, que tem porte de aeroporto de primeiro mundo e contraria as expectativas de quem foi advertido sobre a precariedade do país e estava preparado para o pior. Já a segunda "surpresinha" veio apenas alguns minutos depois, quando o motorista e eu fomos até o carro e eu estava prestes a me sentar do lado direito do veículo. Qual foi minha surpresa quando ele abriu a porta e o volante estava ali! Na verdade eu já sabia que, também por herança dos ingleses, aqui se dirige do lado direito do veículo e no lado esquerdo da rua, mas essa é uma coisinha difícil de a gente se acostumar!

Agora uma coisa que não deve ter sido herança dos ingleses é a vassoura:

A vassoura indiana: essa é pra deixar alguém corcunda.

Esta foto é apenas pra ilustrar uma coisa que me chamou atenção aqui: casarões às vezes até luxuosos em ruas de terra, ao lado de casebres sem energia elétrica nem água encanada. Não chegamos a ver um bairro nobre, como ocorre no Brasil e acredito que nas cidades grandes da Índia.
Este tipo de pintura de henna é uma arte muito comum entre as mulheres indianas, e é feito especialmente pelas que irão se casar em breve.

Eu passava todos os dias por esse lugar pra ir ao trabalho. A dinâmica das  pessoas  buscando água do poço, banhando-se em frente às casas... em meio a animais e vendedores de leite me intriga, me dá vontade de pintar um quadro.
Este item não tinha entrado em nenhuma postagem ainda pelo grau reduzido de relevância... mas será que mais alguém além de mim assistia aos episódios do Chaves e se perguntava o que é tamarindo? Talvez o meu tio Leandro ..."Quer o que tem sabor de tamarindo?" :)



Bem, essa foi a primeira sequência. Não deixem de dar uma espiada na próxima... guardei a melhor foto pro final.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

What's up? Monsoon, a volta às aulas e uma prática um tanto estranha

Oi pessoal,

Como estou com meus dias contados aqui na Índia, tratei logo de preparar mais uma postagem antes que não sobre mais tempo até a viagem.

Por aqui o clima mudou bastante nos últimos dias. Chegou o monsoon - a estação das chuvas - que trouxe alívio para essa terra que não via água por longos meses. E quando ele chega, chega mesmo! Chuvas e ventos fortes com relâmpagos e trovões passam a ser constantes, e causam um certo transtorno por conta de acúmulo de água nas ruas despreparadas para tal. Contudo, as pessoas e os animais agradecem pela chuva, que trouxe com ela uma brisa agradável, dias nublados e temperaturas um pouco mais amenas.

Outra novidade foi a volta às aulas. Passamos a ver crianças em seus uniformes circulando por todos os lados e em todo tipo de meios de transporte. Gravatinhas e saias de prega evidenciam como o sistema escolar daqui mantém várias características herdadas dos ingleses.

Ônibus escolar em Agra./ School bus in Agra, India.

Crianças de uniforme escolar nas ruas de Agra.
Pra completar as atualizações, descobrimos algo que vai deixar muitos de vocês horrorizados: Nós já tínhamos notado caminhando por aí que a água do esgoto era desviada para algumas plantações. Na dúvida se isso era uma prática comum, André questionou o dono de uma fábrica (pessoa de classe social privilegiada) sobre esse assunto. O rapaz não só confirmou que essa prática existe, como acrescentou que o "adubo orgânico" é ótimo pra as plantações. Estou me referindo ao cultivo de alimentos mesmo... milho, tomate, e até aqueles que crescem embaixo da terra. Agora entendo porque as cenouras são escuras por fora :/
Mas não fiquem chocados, pessoal... comi essas coisas por quase seis meses enquanto morei aqui e em todo esse tempo tive no máximo uma dor de barriga, que aliás provavelmente foi causada pelo salame que trouxe do Brasil e não pela comida daqui. Enfim, milagres da natureza... praticamente um processo de reciclagem natural hehe

Bem, pessoal, vou encerrando por aqui... "Mas e a retrospectiva que você tinha prometido, Mari?"
Sim, sim... Não esqueci e ela vem logo a seguir. Não deixem de dar uma olhada porque vou contar sobre a surpresa que tive ainda antes de sair do aeroporto quando cheguei, e vou mostrar também fotos curiosas.

Até breve ;) 

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Despedida da Índia: Adeus ou até logo?

Namaste, pessoal!

Faltam apenas alguns dias pra voltarmos ao Brasil. Por isso os pensamentos já estão mais lá do que aqui. Vamos passar um período de férias juntos e depois o André voltará para a Índia, enquanto eu ficarei no Brasil pra concluir o meu curso de pedagogia na USP. Se tudo der certo, volto de mala, cuia e diploma na mão pra Índia no início do ano que vem.

Mas e se o projeto na Índia não der certo? E se eu nunca mais voltar pra cá?
Bem, se essa fase terminar tenho apenas que ser grata pela grande oportunidade que tive. Morar esse tempo na Índia foi uma experiência única, que nos modificou e passou a ser parte do que somos; por isso estará sempre conosco de alguma forma.

Mas o Minha Vida na Índia vai acabar? E, mesmo que eu volte, o blog vai ficar inativo por cinco meses?
Eu dei à luz este blog e sinto-me responsável por ele e por seus poucos leitores. Foi pensando no destino desta cria virtual que surgiu uma ideia: Tal como com qualquer filho, devo passar a levá-lo pela mão por onde quer que eu vá. Pode se transformar no meu diário de viagens, ou simplesmente de experiências e reflexões cotidianas. Por definição, um blog, ou seja, um diário virtual - exatamente o que essa criatura é e não vai deixar de ser.


Bem, e pra marcar esse momento de transição, decidi fazer um post (ou uma série de posts) apresentando uma retrospectiva dos quase seis meses que passei aqui na Índia.

Aguardem!

sábado, 23 de junho de 2012

Welcome to Walmart!

Interessante que a Aline me perguntou como é o mercado por aqui. Primeiro, explico quem é a Aline: ela foi minha colega no curso de pedagogia da USP e é autora do blog http://saopauloparisdakar.over-blog.com/, no qual conta suas experiências de mineira-paulista vivendo na França e fazendo eventuais viagens à África. Pois bem, ela queria saber um pouco mais sobre o supermercado e os produtos aqui na Índia. Interessante foi eu ter ido alguns dias depois às compras me propondo a reparar nas coisas que ela tinha mencionado e acabar constatando que aquele mercado não era muito diferente de alguns em qualquer outro lugar do mundo.

Antes de prosseguir com os detalhes, vale contextualizar: Quando morávamos nos EUA, fazíamos a maior parte das compras no Walmart. Não porque gostássemos de lá. Pelo contrário, era mal frequentado, tinha muitas filas, serviço ruim, mas... os preços eram bons.
Quando voltamos a morar no Brasil, logo descobrimos perto de casa o mercado que oferecia os melhores preços - o Todo Dia. "Coincidentemente" este também era péssimo em serviços. Algumas vezes até desisti de comprar alguma coisa por causa do tamanho das filas. Por essas e outras, não ficamos tão surpresos ao descobrir que o tal mercadinho pertencia à Walmart.
Agora adivinhem o que aconteceu ao chegarmos na Índia: Aqui do outro lado do mundo também frequento um mercado que pertence a nada menos que a gigante Walmart, e leva o nome de Easy Day.

Nos EUA a Walmart já gerou muita polêmica, figurou em documentários, e inclusive há pessoas que se recusam a fazer suas compras lá na tentativa de frear o crescimento da rede que estaria se encaminhando para um possível monopólio.
Apesar de reconhecer esse lado nocivo, devo confessar minha gratidão à Walmart. Graças a ela tenho acesso, aqui na Índia, a produtos que tornam a minha vida aqui um pouco mais próxima do "normal" (leia-se ocidental, com todo o etnocentrismo que a palavra carrega).
É graças à Walmart que posso comprar peixe limpinho congelado numa bandejinha hermeticamente fechada, numa cidade onde a outra opção seria esta:


Peixe fresquinho sendo vendido nas ruas da Índia. Sim, os pontinhos pretos são moscas.
Pois é, vocês hão de convir que nessas circunstâncias é um alívio ter os produtinhos embalados, da nossa conhecida Great Value, e até coisas como a mistura para panquecas americanas e os brownies com os quais ficamos familiarizados desde que moramos nos Estados Unidos.

Eu já comentei aqui num post anterior que temos acesso a uma grande variedade de produtos de marcas internacionais, e isso não se limita apenas ao Easy Day. Pelo contrário, temos visto cada vez mais os esforços das grandes empresas em conquistar o público indiano. Afinal, uma parcela mínima desta população de mais de um bilhão de habitantes já representaria lucros expressivos para os investidores.
Mesmo assim, cada vez mais semelhante às lojas norte-americanas, o Easy Day não deixa de apresentar características locais. Por exemplo, o hábito desagradável de revistar a nossa bolsa antes de entrarmos. A propósito, não foi nesse, mas num outro mercado que eles chegaram ao absurdo de começar a pegar cada objeto pessoal que eu tinha na minha bolsa e fazer uma marca com pincel atômico, mesmo que nem vendessem o produto lá. Além disso, a funcionária não entendia inglês pra que eu pudesse ao menos argumentar ou praguejar. Resultado: cliente frustrada ainda antes de começar as compras.

Pois bem, após delongas e reflexões, respondo às perguntas da minha colega blogueira e quase-pedagoga:
1-Tem "produtos piratas" (imitações, às vezes grosseiras, das grandes marcas)?
R.: Olha, não vi essas imitações. Apenas adaptações. Por exemplo: Cup Noodles de masala, ou qualquer coisa masala.

2-E "mini-produtos", como "pacote" com 1 biscoito ou sachezinhos de poucos gramas de sabão em pó?
R.: Sim. Isso é uma coisa que não vi nos mercados grandes, mas basta ir a um mercadinho de esquina, desses abarrotados de coisas, ou reparar em qualquer banquinha na rua que lá estão elas:


Sachês de xampu vendidos na Índia por 4 rúpias.
Bem, pessoal, espero que vocês (e a Aline) tenham gostado deste post ;)
Até a próxima!

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Mehtab Bagh




Tem alguma coisa estranha nesta foto?

Os bons observadores devem ter notado que o jardim está diferente daquela outra foto que postei aqui há alguns meses e de outras que possam ter visto. Então o que houve? Mudaram o jardim? Ou não seria este o verdadeiro Taj Mahal e sim uma réplica dele?
Nada disso, meus caros. Este é sim o original, e seu jardim não foi remodelado. Este é na verdade o Taj visto de um outro ângulo.
Ué, Mari! Mas parece ser exatamente igual àquela foto de frente que você mostrou.
Pois é isso mesmo. A construção principal tem todos os lados iguais, e esse que aparece na foto é o lado de trás.

Apesar de as opções de passeios estarem se esgotando pra nós aqui em Agra, dei uma pesquisadinha mais a fundo e descobri a existência desse jardim, o Mehtab Bagh, de onde se tem uma vista privilegiada do Taj Mahal. Além da vista, a vasta área arborizada onde se pode caminhar pelo gramado proporciona uma paz que não se encontra nas ruas.
Ainda assim com um pouco mais de tranquilidade, algumas coisas não nos deixam esquecer de que estamos na Índia. Por exemplo, ao chegarmos e depois ao sairmos, umas cinco ou seis pessoas entre homens e meninos nos abordam seja pra vender cartões postais, bijuterias ou pra pedir dinheiro numa insistência perturbadora que é quase uma invasão que nos tira o direito de ir e vir. E é perturbadora não só no sentido de que nos tira a paz e nos desvia de nosso próprio pensamento e rumo, mas porque inquieta o ser que está ali pretensamente hermético, que deseja ver o Taj Mahal sem ver a Índia; e depois que é forçado a ver, fica ali, ineficaz, mesmo que divida todo o dinheiro que carrega nos seus bolsos, e sai deixando um rastro meio amargo e meio doce.

Filosofias a parte, fiquei com esse gosto também com relação ao seguinte episódio: Paramos pra olhar esta pequena vila que aparece ao fundo na foto abaixo. Ela é separada do jardim apenas por uma baixa cerca.

Assim que nos aproximamos esses dois meninos vieram correndo, dizendo: Foto, foto... Resolvi entrar na brincadeira e posar pra foto com eles, que imediatamente depois do clique começaram a dizer: Foto, 10 rupees... hehe Infelizmente não tínhamos dinheiro trocado e saímos andando. Eles nos seguiram e insistiram por um tempo até o André amolecer o coração e tirar uma nota de 100 rúpias da carteira. O menino mais velho prontamente garantiu que iria dividir o dinheiro com o outro e já estava quase saltando em cima da nota de ansiedade. Quando pôde, porém, agarrou a nota com toda a força e saiu em disparada, deixando o mais novo se jogar no chão aos prantos de frustração. É, uma malandragem de criança que me deixou pensativa e chateada. Fiquei tentando vislumbrar o futuro desses dois seres humanos, que são iguais a mim e a você, só que com oportunidades diferentes.

Bem, como não podia faltar, mais um momento "sinta-se uma celebridade na Índia"... hehe Olhem essa fofura que veio me entregar uma flor:



Por livre e espontânea pressão do pai dele, me estendeu a mão pra posar pra foto. Reparem no bonezinho pro lado, zíper aberto e cadarço arrastando no chão... Muito fofo!
Depois me pediram pra tirar uma foto com os dois filhos e outra com a mulher. Honestamente, não entendo o que eles veem em mim. Num lugar onde as branquelas europeias chamam até a nossa atenção, eu iria imaginar que uma brazuca meio "índia" passaria despercebida.

Aliás, não sei quais eram as circunstâncias que trouxeram aquelas branquelas à Índia, mas vale a dica de que essa não é a melhor época do ano pra fazer turismo a menos que você seja um camelo ou algo assim. Nós não nos atrevemos a sair antes das 17h e ainda assim a sede e o desconforto do clima nos fizeram voltar logo para casa. Entre os meses de fevereiro e abril foi a época mais agradável pra passear.

Bem, como quase tudo na Índia, o Mehtab Bagh não é impecável, mas serve como uma boa opção pra quem gosta de natureza e, claro, apreciaria admirar de camarote o Taj Mahal do outro lado do rio Yamuna.


 

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Gujia

Namaste, amigos! As temperaturas baixaram por aqui desde a última postagem e está fresquinho como uns 35 graus. E foi nesse clima ameno que comemoramos ontem o aniversário do nosso colega Amauri, que pagou pizza e refrigerante pra toda a turma. O toque indiano ficou por conta da sobremesa: o gujia (pronuncia-se como "gudiá").

Gujia, iguaria típica indiana.
A massa me lembra um pouco a da nossa empada, só que esta é doce. Me parece que depois de pronta ela é mergulhada numa calda de açúcar. O recheio é feito de leite e açúcar que são levados ao fogo até engrossar. Pra completar, algumas amêndoas em pedaços.Quanto às coisinhas verdes que aparecem na foto, não perguntei o que eram.
Numa escala de 0 a 10, daria uma nota 5 para o gujia. Não é ruim, mas talvez parecesse mais gostoso se não tivesse provado depois de já ter comido dois pedaços de pizza.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

FAZEM 48 graus


Eu poderia afirmar que a frase acima contém um erro gramatical. Já posso até imaginar professor Pascoale dizendo “O correto seria ‘faz 48 graus... os graus não fazem nada.’’’ Ah, é? Não fazem nada? Talvez porque você nunca tenha morado na Índia.
O erro foi proposital e justamente pra mostrar que os graus aqui fazem muitas coisas: Eles fazem por exemplo com que os cães mergulhem quase todo o corpinho na água e fiquem sentados ali pra amenizar o calor, mesmo que essa água seja de esgoto. L Já os que não têm nem uma poça por perto, afinal a água é escassa, cavam um buraco na terra pra chegar a uma superfície menos quente e dormem quase o tempo todo. Os muitos graus fazem com que as pessoas ponham suas “camas-esteiras” na rua e durmam ali com as estrelas como teto. Alguns inclusive têm um pequeno comércio no mesmo cubículo que lhes serve de residência, e ali esperam deitados pelos clientes.
Os graus que tornam impossível conservar algumas frutas e vegetais são os mesmos que têm feito mangas deliciosas (bem, não sei se eles fazem, mas ao menos não impedem o cultivo em abundância dessa fruta). E é impressionante também como não impedem que os que trabalham ao ar livre continuem suas atividades, sob temperaturas que parecem simplesmente intoleráveis pra nós que temos o conforto do ar condicionado e quase desmaiamos quando damos uma saidinha. Ainda assim é muito raro ver alguém usando bermuda. Pelo contrário, muitos cobrem o corpo com tecidos, e algumas mulheres usam também umas meias e luvinhas meio ridículas de cor bege pra se proteger do sol; seria por que têm consciência dos perigos que o sol pode causar a pele? Na verdade tudo indica que não, que fazem isso para não se bronzear. Cheguei a essa conclusão e você também chegaria se visse a quantidade de produtos para clarear a pele que se vende por aqui. Esses produtos figuram massivamente nas propagandas de televisão, mostrando as grandes vantagens sociais de se ter uma pele alva, mesmo que as características naturais do típico cidadão indiano sejam o oposto dessas e o clima do país não as favoreça nem um pouco.
A paisagem desértica de Agra, sob temperatura média de 45 graus.

Talvez alguns de vocês possam até estar se perguntando se esses produtos clareiam mesmo a pele, ainda mais se eu disser que são vendidos em qualquer supermercado por talvez um equivalente a $10 reais. Me limito apenas a dizer que um dia vi uma propaganda na tv de um shake para aumentar a estatura. Daí você tira suas próprias conclusões.
Ok, amigos, até a próxima e... vão pela sombra!
Ah! E se por acaso a produção de postagens neste blog diminuir, já sabem: é o calor! ;)

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Vai um docinho aí?

Esses dias eu estava caminhando aqui dentro do condomínio onde moramos e um garoto veio e me deu um doce. Achei bem estranho, ele apontou uma scooter dentro da garagem, disse que tinha ganho. E eu ali com o doce na mão ainda desconfiada e tentando entender qual era a relação entre ele ter ganho uma scooter e o fato de ter me dado um doce. Foi aí que o sorridente menino me disse: é uma tradição. Ok, entendi... acho que quando se ganha algo muito legal você também deve passar adiante a gentileza oferecendo algo a outras pessoas.
Perguntei se ele não era muito novinho pra ganhar uma daquelas, ao que ele respondeu orgulhoso: Não, eu tenho quatorze anos de idade.
Pelo que eu saiba a idade mínima pra se dirigir aqui é de 18 anos, mas jovens de 16 têm permissão pra conduzir essas motos pequenas. Deve ser por isso que essas motinhos estão por todo o lado.
O doce se chama burfi .Era amarelo, feito de côco. O sabor é bem parecido com o de uma cocada, só que com uma consistência mais molinha. De novo uma experiência legal, mostrando que na Índia sempre vale a pena dar uma voltinha mesmo que seja até a esquina pra se aprender algo novo.
Burfi. Doce indiano.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Seu casamento é apenas um contrato (?!)

Pessoal, olhem só o outdoor que colocaram aqui perto da empresa:

O que é seu casamento senão um contrato comercial. Você precisa de "lei" e não de amor.
Parece uma piada, mas os caras chegaram a esse ponto pra fazer uma propaganda e oferecer serviços. Alguma relação com o fato de a maioria dos casamentos aqui serem arranjados? Seria injusto afirmar isso enquanto os divórcios em países como Brasil e Estados Unidos por exemplo já se aproximam de 50% do número de casamentos. Ora, é evidente que a mídia já vem oferecendo uma grande contribuição em prol da "liberdade" das pessoas aqui na Índia. Pode-se notar esse fenômeno no comportamento e na maneira de vestir-se dos jovens de classe média a alta, que já começam a fugir das tradições antigas. Aparentemente, juntam-se a essa corrente os que estão interessados em dar uma forcinha a mais para os indianos se libertarem de suas amarras.
Ainda assim, essa propaganda não é chocante se comparada a outras que ouvi dizer que existem, como por exemplo as que tentam impelir abertamente o aborto de meninas, sob o argumento de que uma filha gera muitos gastos aos pais. Eles dizem: Gaste X (com o aborto) para não gastar muito mais no futuro.

Incredible India?!

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Oi pessoal! Já faz um tempinho que não venho contar novidades aqui, mas não é porque esqueci do nosso cantinho. É que ultimamente não temos conseguido fazer nada de diferente, e isso por conta do clima: hoje por exemplo fez 44˚C com humidade do ar de 11%. Sair durante o dia se torna praticamente impossível nessas condições.
Para o bem e sobrevivência de nosso blog, nesta semana os amigos Paavan e Smita me convidaram pra comer uma iguaria típica e bem popular na Índia: Samosa.
Pra quem nos acompanha desde o início, vale mencionar que até agora meu conhecimento da culinária indiana se limitou àquelas duas sobremesas que o Ali me trouxe, além do Paratha com azeite e alho que comemos no restaurante do Hotel Marina – esse não hesitamos em pedir de novo. É exatamente por esse motivo que eu ter provado algo novo é um fato digno de menção.
Talvez vocês já até conheçam alguns pratos indianos, mas eu particularmente não tinha tido contato com a culinária daqui antes. Engraçado que depois que me mudei alguns amigos disseram que adoram comida indiana.
Mas enfim, vamos ao Samosa...


É um salgado frito, com uma massa fina e crocante envolvendo um recheio que nesse caso era de batatas e alguns temperos. Pro meu gosto é apimentado demais, mas super normal pra média do paladar dos indianos. Serviram também duas opções de molho, um salgado e um doce; os dois chamados Chutney. Comi o meu inteiro e gostei. Seria mais gostoso ainda não fosse a pimenta e a desconfiança (quase certeza) sobre os métodos de higiene utilizados no preparo e manuseio do tal.
De qualquer forma, a experiência foi super positiva: conheci de perto mais um pouco desta cultura e tive um momento de descontração que estreitou os laços de amizade com a turma de indianos aqui do escritório, que aliás são super simpáticos e prestativos.


quarta-feira, 25 de abril de 2012

Delhi

Foi bom ir a Nova Delhi e respirar novos ares. Eu já tinha passado por lá na minha chegada à Índia no final de janeiro, mas tudo o que vi foi parte do aeroporto e do hotel onde passei a noite pra logo de manhã já pegar a estrada e seguir a Agra.
Delhi é outra Índia, diferente da que conhecemos e até aprendemos a nos acostumar. A cidade até conserva algumas características típicas da Índia, como por exemplo os tuk-tuk nas ruas, mas as estruturas comerciais fazem São Paulo parecer pequena. No Saket Place, um complexo enorme de lojas renomadas, fizemos umas compras no supermercado Le Marché, e foi ali que me dei conta do quanto a vida em Agra é precária. Parece que eu tinha me esquecido da privação de coisas simples a que aceitamos nos submeter como condição de morar aqui.
Além de conhecer um pouco da cidade, nossa principal razão pra irmos a Delhi era assistirmos a uma reunião da igreja. Nós somos membros de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias (SUD) que, como qualquer religião Cristã, ainda é bem pequena deste lado do globo. Portanto, ainda não há grupos aqui em Agra. É bem difícil conseguirmos ir a Delhi porque a distância requere que tenhamos mais de um dia livre pra fazer isso, e nós trabalhamos normalmente aos sábados. Sim, não sei se já comentei aqui, mas na Índia o sábado é um dia de trabalho como os outros. O jeito então foi esperar por um feriado. E no dia 14 de abril tivemos um: Ambedkar Jayanti, em memória de um líder político que lutou pelas minorias discriminadas.
A viagem de Agra a Delhi pode ser feita em 4 horas de carro, mas com o trânsito do feriado acabamos levando 6 horas pra chegar. É também possível fazer o percurso de trem, porém é necessário reservar passagens com antecedência, coisa que nós não providenciamos.
Aqui estão algumas imagens que fizemos no caminho:
Pessoas viajando em condições quase subumanas na Delhi-Agra Road. Às vezes deixamos de fotografar este tipo de situação pra não constrangê-los.

Transporte de algodão e outras cargas, onde o motorista fica exposto às altas temperaturas. Coloca-se o máximo de carga possível no veículo.

Já era fim do dia quando chegamos a Delhi e escolhemos um lugar para vermos antes de anoitecer. Por sugestão do Ali, fomos ao India Gate - um arco de 42 metros de altura dedicado a soldados mortos em guerra. Não há muito pra ver além do próprio arco. A grande área arborizada ao redor estava repleta de visitantes e vendedores. Aliás, essa característica se aplica a praticamente todos os lugares na Índia – sempre tem muita gente, não importa onde. Difícil foi aguentar os vendedores chatos. A cada segundo tinha um oferecendo brinquedinhos, pulseirinhas, e não largavam do nosso pé. Desta vez, como em todos os pontos turísticos que visitamos até agora, algumas pessoas também nos pediram pra posar para fotos com elas, o que ainda é um tanto estranho e engraçado.
India Gate

A Igreja
Ser membro de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias é como ter uma família em cada lugar a que se vá, mesmo que seja tão longe quanto a Índia. As pessoas já têm uma dose a mais de doçura e afeto que nos enchem o espírito. Nos recebem de braços abertos e com um sorriso caloroso mesmo que seja a primeira vez que estão nos vendo. Quando nossos olhares se encontram, nasce a afinidade de irmãos que sabem que compartilham de algo precioso e especial.
Casa que abriga o primeiro ramo de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias em Delhi


A volta, Krishna, os animais, e uma história de amor
Uma das partes interessantess da viagem foi voltar com o Lucky, um outro motorista que às vezes presta serviço pra nós. Ele gosta de nos ensinar coisas sobre a cultura indiana e nós aproveitamos pra fazer perguntas. Foi assim que acabamos também fazendo uma outra viagem, através das histórias que ele nos contou.
Para os que acompanham sempre o blog, o Lucky foi o defensor das lagartixas do episódio que contei lá nos primeiros posts.
Pois bem, essa foi uma das coisas que aproveitei pra tirar a dúvida. Nós tínhamos recém ouvido sobre a crença no hinduísmo de que as pessoas podem, em outra vida, renascerem como animais. Isso explicaria o fato de os tratarem bem. Lucky nos confirmou sobre isso, acrescentando que no hinduísmo acredita-se que Deus está em todos os lugares. Logo, está também na vida de um animal ou mesmo numa pedra. Por isso todos esses elementos devem ser respeitados. Nos contou também que muitas vezes, ao preparar um alimento, oferecem a primeira porção a uma vaca.
E por que a vaca é considerada sagrada, afinal? Bem, a história ficou um pouco desconexa pra mim, mas basicamente Lucky explicou que Lord Krishna (figura central na religião hindu) costumava tocar uma flauta e atraía esses animais, os quais vinham de longas distâncias; portanto, vivia cercado deles e tinha afeição por eles.
Como eu já conheci algumas pessoas no Brasil que se denominam da religião Hare Krishna, perguntei se havia alguma diferença entre esta e o hinduísmo. Lucky nos afirmou que não, que são a mesma religião.
Deixo bem claro que não estudei sobre o assunto e de nenhuma forma tenho a intenção de distorcer ou divulgar informações equivocadas sobre estes tópicos. O objetivo aqui é apenas compartilhar a vivência e a visão do cidadão indiano comum a que estamos tendo acesso. Aliás, convido a quem esteja interessado a fazer comentários e nos informar um pouco mais - seria ótimo!
O interessante foi conversarmos sobre estas coisas enquanto passávamos pela cidade de Mathura, reconhecida como o local onde nasceu Krishna.
O assunto foi fluindo até que chegou o ponto em que estávamos conversando sobre casamento. Lucky, assim como todas as pessoas que questionamos até agora, não conhecia sua esposa antes de se casarem. Acabou contando algo que nos deixou tocados e pensativos.
 Ele tinha acabado de dizer que as pessoas são felizes assim, com casamentos arranjados. Eu perguntei se tinha demorado até que ele e sua esposa se tornassem amigos um do outro. Ele disse que sim, já que ele gostava de uma outra pessoa e ainda não tinha superado esse sentimento quando se casou. De acordo com ele, sua esposa sabia disso e foi compreensiva.
Essa outra mulher, a quem ele se refere como namorada até hoje, não pertence à mesma casta que ele e por isso os pais dele não aprovaram um casamento entre os dois. Pensaram até em fugir juntos, mas sabendo das graves consequências, Lucky preferiu obedecer aos pais e casar-se com uma mulher escolhida por eles. Mesmo assim, foi difícil superar a tristeza e por algum tempo ele até se entregou à bebida. Atualmente, tanto ele quanto a “namorada” são casados com outra pessoa e têm filhos, mas ela de vez em quando ainda liga perguntando como ele está, e diz que numa próxima vida eles vão poder ficar juntos.
Ficamos consternados. Eu ainda insisti e perguntei “E então você foi começando a amar sua esposa...?”, ao que ele respondeu com um “é...” bem pouco convincente e disse que ele respeita e trata muito bem a sua mulher.   

Sei que o texto já está ficando longo, mas ainda quero comentar algo: Desta vez o McDonald’s acabou se apresentando como única opção pra almoçarmos antes de seguir viagem, e como era em Delhi, resolvemos encarar. Ficamos satisfeitos com a comida e mais ainda com o preço: Aproximadamente R$ 5,00 uma refeição completa. O mesmo tínhamos notado com os sorvetes da marca que no Brasil é a Kibon: Um Fruttare custa 25 rúpias (menos de um real), por exemplo. Resolvi abordar este assunto pra refletirmos um pouco... uma possível justificativa pra essas coisas custarem o triplo do preço no Brasil são os impostos. Mas ainda que seja, o brasileiro continua pagando mais caro por tudo, e não duvido que muitos pensam que os preços são justificáveis pela “alta qualidade” dos produtos. Abram o olho, brazucas: nessas horas vale a pena abrir mão e não comprar.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Monkey Business

Olá pessoal!

E não é que nossos amigos macaquinhos estão mesmo querendo ser o centro das atenções! Devido aos acontecimentos dos últimos dias fui obrigada a escrever mais este pequeno post destinado exclusivamente às peripécias protagonizadas por esses malandrinhos.

Talvez você se lembre do nosso desafortunado amigo Ali, cuja esposa e depois a filha foram mordidas por um macaco. Pois é, parece que o bicho está querendo deixar sua marca na família inteira e desta vez mordeu o filho dele.
É melhor o Ali se cuidar!


Como se não bastasse, nosso novo colega de trabalho, Amauri, também já tem uma macacada pra contar. E olha que ele chegou aqui há menos de uma semana!
Estava ele bem tranquilo na cozinha de seu apartamento no térreo preparando uma omelete pela manhã. Devia estar tão concentrado que não percebeu a movimentação de uma criatura entrando pela porta da cozinha, passando por trás dele, e indo para a sala de jantar. Quando ouviu um barulho foi ver o que era, e logo se deparou com nada mais nada menos do que um macaco comendo uma manga em cima da mesa. Chupa essa manga! Isso deve ser pior do que um cão chupando manga! (ho-ho-ho)
Pra completar o atrevimento, a criatura saltitante saiu satisfeita carregando um pacote de pão.


É por essas e outras que, se eu fosse um animal, queria ter nascido na Índia. Explico um pouco melhor sobre esse assunto no próximo post. Aguardem.


quarta-feira, 18 de abril de 2012

Do lixo ao luxo

Não que eu esteja de fato chamando o lugar que eu fui de lixo. Na verdade essa referência ao poema de Augusto de Campos é mais pra demonstrar o contraste que presenciamos diariamente aqui na Índia e principalmente o que vimos neste dia que vou relatar.
Estou um pouco atrasada com as postagens, afinal esta é sobre o dia 7 de abril e agora já quero falar também sobre a viagem a Nova Délhi que fizemos agora no dia 14. Mas assim é o Minha Vida na Índia, postagens sem dia nem hora marcada. “Blogar” quando o tempo e a vontade permitirem.  
Pois bem, no dia 7 nós fomos passear aqui perto numa espécie de mercado ao ar livre. O lugar consiste basicamente em uma rua estreita e comprida onde há inúmeras lojas de artigos bem variados e com muita gente. Fora o grande movimento de pedestres, circulavam também com motos e bicicletas ali, o que tornava o ambiente ainda mais caótico. Nos sentimos um tanto corajosos de estar naquele meio, realmente nos misturando ao povo. Às vezes dava a impressão de estarmos numa cena de filme.
Uma menina nos pediu dinheiro e demos uma pequena quantia. Ela não ficou satisfeita e continuou nos seguindo e insistindo. Disse algo que, apesar do meu precário vocabulário em hindi, entendi como “khānā” (comida); também nos apontou suas roupas. Essas coisas nos partem o coração, mas infelizmente não podemos resolver os problemas de nem uma pequena parcela das pessoas, e tivemos até de ser um pouco ríspidos para que ela parasse de nos importunar.
Desta vez andando mais rápido, atravessamos uma linha de trem, e então começamos a perceber quantos macacos estavam ao redor, brincando sobre cercas e telhados, e saltando nos fios elétricos.
Confesso que todos esses elementos juntos acabaram me causando uma certa irritação. As pessoas nos olhavam o tempo todo, e minha irritação aumentou quando percebi que alguns olhares não eram por nossas roupas serem diferentes ou por sermos estrangeiros, mas sim pra tentar ver através da minha blusa branca. Essa atitude realmente me enfurece, e só leva a pensar que essa cultura se esconde atrás de um pseudo-recato machista e hipócrita.
Ok, não posso julgar todo o povo pela atitude de alguns. Ainda assim foi uma experiência válida, e nosso passeio ainda não acabou. Mas antes de prosseguirmos, algumas imagens pra complementar:


É interessante que em um lugar aparentemente ordinário na Índia se encontre um templo antiquíssimo e rico em detalhes como este.

Dando sequência, dali resolvemos ir conhecer um dos hotéis mais luxuosos de Agra, se não o mais luxuoso: o  ITC Mughal. Passamos pelo grande saguão de chão de mármore onde estava acontecendo uma apresentação de dança local. Seguimos por um corredor que dava acesso ao requintado spa e ao sairmos passeamos pelo amplo jardim com som ambiente, onde fica a grande piscina e outras atrações para recreação.
Nos surpreendeu saber que o hotel estava lotado e notar que havia mais indianos do que estrangeiros no hotel, deixando evidente que muitos estão desfrutando de abastança enquanto um imenso número de pessoas sofre com a miséria no país.

Sabíamos que havia um McDonald’s por perto e resolvemos conferir, pensando que por estar em uma região nobre o lugar poderia ser limpo. Grande engano. Além de sujo e cheio, o cheiro dava enjoo. Sem contar as adaptações locais no cardápio, que incluem molhos exóticos e muita pimenta. Pra não perder a viagem, saímos cada um com um sundae, que fomos comer lá fora.
A esquisitice da vez ficou por conta de uma massagem que estavam oferecendo ali, onde as pessoas punham os pés na água e vários peixinho vinham comer a sujeira de seus pés.
A massagem dos peixes (por falta de um nome melhor)

Depois percebemos que o McDonald’s era a entrada para um shopping. Um breve passeio ali encerrou o nosso dia.
Vou ficando por aqui. Aguardem o próximo post sobre nossa ida a Nova Délhi, falando um pouco sobre a Igreja, Krishna, as castas indianas, etc.
Beijos a todos e um em especial à minha best Marcinha que está sempre participando aqui no blog.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Choveu!

É simples assim o que tenho a declarar nesse post: choveu! Sim, está trovejando, relampeando e caindo água sobre essa terra que não via chuva há meses.
Nos últimos dias as máximas têm estado em torno dos quarenta graus, e a humidade do ar não passava dos 10%. Viva a chuva! Agora só resta ver como ela afeta a dinâmica de muitas pessoas que trabalham e inclusive dormem a céu aberto.
Vou contando mais novidades nós próximos dias e também fico devendo por enquanto o relato do passeio que fizemos no sábado... mais ou menos no estilo "do lixo ao luxo".

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Agra Fort

Apesar de o Forte de Agra não ser tão conhecido quanto o Taj Mahal, também acaba se tornando atração obrigatória para os turistas que visitam a região. E pra quem esperava que o Taj Mahal seria o auge de sua visita no que diz respeito a glamour e grandiosidade, surpreende-se com o forte, que supera o Taj em extensão e riqueza de detalhes. Em seguida apresento uma espécie de diário ilustrado contando um pouco do que vi e ouvi durante esse passeio.



Pessoas ao redor durante a negociação com o motorista do tuk-tuk.
 E aqui na Índia a diversão começa assim que colocamos nossos pés pra fora de casa: Chegamos no ponto dos tuk-tuks. Você acha que tem uma fila, assim como nos pontos de táxi, onde se respeita a vez de cada um? Não aqui, meus caros... É engraçado quando tentamos escolher o tuk-tuk que está em melhores condições e perguntamos ao condutor quanto cobra pra nos levar a um determinado destino. Logo outros motoristas se aproximam, dão seu preço e oferecem pra nos levar. Eles não se importam, o primeiro não fica bravo porque o outro está "roubando" o cliente dele. Mesmo os curiosos se aglomeram ao redor pra "ajudar" na negociação.



Depois de acertarmos um preço, seguimos em direção ao forte. Durante o trajeto entramos numa rua em que ficamos trancados por um tempinho devido a uma movimentação que havia ali. A banda na foto ia à frente de uma espécie de passeata. Em clima de festejo, todas as pessoas começaram a se dar as mãos. Em seguida vi alguém se ajoelhando em adoração a algo que estava adiante e eu não conseguia ver o que era de onde estava. De repente o mais inusitado: homens completamente nus caminhavam entre a procissão. Temos o palpite de que deveriam ser como "homens-santos".


O forte de Agra, que fica a apenas 2,5km do Taj Mahal.
Chegamos. Na entrada, há a movimentação típica de turistas locais e estrangeiros. Em meio a ofertas de guias, compramos as nossas entradas, que custam 300 rúpias por pessoa.
Resolvemos contratar os serviços de um guia turístico, já que as informações oferecidas por eles agregam muito à visita, que ficaria um tanto vazia e desconexa sem o conhecimento da história do local.
Assim como o Taj Mahal, o forte também fica aberto do nascer ao pôr do sol. Novamente nós fomos no fim da tarde e recomendo, mesmo não tendo ido mais cedo pra ver como é. Nesse horário a temperatura já está mais amena e o lugar está mais vazio. Fora que os guias começam a cobrar menos no fim do expediente e ainda assim há tempo suficiente para fazer o tour completo.


Vista após atravessarmos o primeiro portão. A conservação do Forte de Agra é impecável comparada ao restante dos lugares na Índia.
Aqui paramos para algumas informações. O forte foi construído no século XVI e abrigou algumas gerações de imperadores. Classificam-no como cidade-palácio, ou cidade murada.



Fosso ao redor da estrutura usado como proteção contra invasores.
Vista de dentro do forte.
Este fosso era mantido cheio de água com crocodilos dentro. Já no espaço mais interno de terra que se segue, o guia nos disse que eram mantidas onças e elefantes. Isso além dos guardas de plantão.

Rampa de acesso ao forte de onde seriam lançadas pedras e água fervente no caso de uma invasão.

Já nesta rampa de acesso, nos foi dito que, no caso de uma invasão, estariam preparados para lançar pedras rolantes e água fervendo pelos orifícios que há nas laterais. Porém, nunca tiveram a oportunidade de "testar" todos esses recursos de segurança, já que não houve tentativas de tomar o forte.



Um dos quartos no interior do forte. Os detalhes eram revestidos em ouro, o qual posteriormente foi saqueado pelos ingleses.

Uma vez dentro desta espécie de palácio fortificado, onde figuram jardins, pátios, biblioteca, mesquitas, salão de festas, etc... tudo é uma demonstração da grande opulência em que viviam esses imperadores. Uma curiosidade é que eles não usavam móveis, apenas tapetes no chão.

O luxo é maior do que podemos imaginar. Nessa área funcionavam várias lojas, já que além de uma população de trabalhadores, as cinco mil mulheres extraoficiais de um dos imperadores habitavam o local! Agora considerem que eles tinham até um quarto com ar-condicionado. Como assim? Naquela época? Basicamente, o sistema de refrigeração consistia em um quarto de paredes ocas e estrutura em forma ovalada, sobre o qual funcionários jogavam água para manter seu soberano bem fresquinho e protegido do calor escaldante.


Os leitores mais assíduos talvez lembrem-se de eu ter contado que Shah Jahan, aquele que mandou construir o Taj Mahal, foi aprisionado por seu próprio filho. Pois foi exatamente dentro do Forte de Agra que ele passou seus últimos anos de vida, em uma espécie de prisão domiciliar de luxo, de onde podia avistar o último abrigo de sua amada Mumtaz, e pra onde ele mesmo seria levado após sua morte.

Bem, tudo isso e não mostrei a vocês nem metade do que vimos, sendo que o que vimos foi, de acordo com o guia, apenas 25% do forte. É por isso que estou indo morar lá :)
Brincadeiras a parte, sentimos quase que uma indignação pelos excessos desses monarcas, mas foi esta a sensação com que terminei a visita ao forte... dá vontade de morar lá.
Pra terminar, deixo vocês com mais algumas fotos.... Até a próxima aventura!